terça-feira, julho 12, 2011

De repente feliz...

De repente
sou um homem rico e feliz
dentro da noite.

Percebo que todos, ou quase todos, dormem,
e o silêncio da madrugada é o meu único companheiro
e o sinto em expectativa, ao meu redor...

Estou lendo o meu jornal depois de uma sessão de cinema,
e me encontro com o mundo, vago mundo - quase sem preocupações.

De repente
estas cansadas manchetes políticas me parecem estranhas
como se estivessem em idioma desconhecido,
estes telegramas, estas notícias, vem de Marte talvez,
porque me falam de outro mundo...

De repente
percebo que estou só, que respiro, que estou bem,
e porque percebo isto, paro de ler para tomar plena consciência
de que exito,
de que respiro, de que estou bem,
neste momento feliz, sem nenhuma importância...

E me levanto, para descobrir
a beleza da noite distante pela janela aberta,
a noite nova e desconhecida, como o olhar de um cego que subitamente pudesse ver.

Esta noite, este silêncio, até este jornal,
que subitamente nada me diz,
esta ausência de tantos,
me fazem rico de repente, porque me encontro

E só por isto, sem nada dizer, tomando a noite e o silêncio
aos goles, como um gaúcho seu chimarrão,
me deixo ficar comigo mesmo, tranquilo, tranquilo, tranquilo,
a saborear estes instantes de infitinita e imprevista paz,
a saboreá-los, lenta e demoradamente...

E não me levo pra cama, até que me desperto novamente
homem pobre e triste como tanta gente...

quinta-feira, junho 09, 2011

Felicidade


Se ele pudesse, chamaria toda as árvores e todos os pássaros
para que o ouvissem,
conversaria com o Dia e conversaria com a Noite,
e casaria o Sol com a Terra, e pederia ao mar suas espumas
ao espaço as suas brumas,
as árvores as suas flores
ao céu as suas estrelas
para tecer o imenso véu...

E pediria ao mundo um pouco de silêncio
e pediria ao céu que descesse um pouquinho
do céu!...


J.G. de Araujo Jorge

segunda-feira, maio 02, 2011

Graça

Meu Deus
por que ser difícil?

É tão fácil cantar: basta abrir a boca!
É tão fácil amar: basta entregar o coração!

É tão fácil chegar à janela, e ver a mesma manhã
sempre diferente, como a mulher que desejamos...

E encontrar pela rua outras belezas
desavorando nosso destino
(como um vento inesperado),
pela alegria de nos perdemos...

Tão fácil possuir o que tantos olhos esperdiçam:
estas velhas árvores tão novas, dando pássaros,
perfiladas, como um desfile, a nossa passagem
acenando verdes alegrias.

E o mar em torno: sempre mar, sempre igual e múltiplo, desafiando
todos os marinheiros mortos
que ressuscitamos no coração em cada dia como este!!

E estas crianças que correm para amanhã, tão hoje ainda em sua alegria,
e que nos levam para longe e nos fazem cantar...

E estas ruas cheias, palpitantes,
como veias abertas que latejam, com esse sangue vive e colorido
de tanta gente a circular!

Meu Deus,
por que ser difícil?

Por que não apenas andar, olhar, amar, respirar?
Sim, respirar...viver,
sem maiores complicações, por essa infinita graça
de apenas cantar!!
...sonhar!
...ser!

domingo, abril 17, 2011

Até logo...



Bem, amigos, com licença,
vou continuar a viver...

A noite vai alta, vai clareando,
e não tarda a ofuscante presença
do amanhecer...

Até logo. Voltarei
quando menos se esperar,
voltarei qualquer dia
para continuar a contar
minha poesia...

sábado, abril 09, 2011

Rico e pobre

Rico é o homem que neste dia de sol,
diante do céu imenso que acena nuvens
sobre a montanha,
pode sair em compania de seus pés,
sem outro pensamento que o da paisagem
que o acompanha.

Pobre sou eu, que aqui estou inanimado
diante da paisagem pendurada na janela
como uma fotografia,
lançando sobre as teclas as sementes que deverão ser a colheita
do pão de cada dia!

Pobre sou eu
nesta íntima agonia,
diante do sol, diante do mar, diante do céu,
inúteis
para a minha alegria!

domingo, março 27, 2011

Bom domingo...





Afinal, que é o poético,
senão o Poeta?

A vida
é apenas barro.
Tu serás ou não
Deus.

segunda-feira, março 21, 2011

A cartilha

"ÔVO, AVE, UVA, AVÔ"

E eu que tantas palavras procuro e carrego
me lembro destas primeiras que encontrei...
E da mão de minha mãe me levando
- como guia de cego -
Sobre o velho caderno onde estudei...

E ao lado delas
também ficaram
na minha lembrança,
aqueles rabiscos que fazia
brincando,
aquelas
garatujas que eram
como passos de criança
engatinhando...

"ÔVO, AVE, UVA, AVÔ"

Ôvo gorado, eis a vida!
Ave, - esperança perdida,
uva, um desejo constante,
- Avô, minha infância distante!

Ficaram na minha memória
as primeiras palavras sem história
como uma tênue e apagada trilha...

E, de repente...Eis que a vida dá sentido
Aquelas primeiras palavras que aprendi
na velha cartilha...

quinta-feira, março 03, 2011

A morte

A morte
é como o amor:
a coisa mais comum, mais repetida.

A morte
é como a dor,
é como a Vida.

Sempre que chega é "nova",
imprevista, estranha,
desconhecida,
e entretanto está sempre conosco
e sempre nos acompanha,
desde o primeiro momento de vida.

Apesar
de ser a coisa mais comum,
(heróica, trágica, banal ou bela)
nunca nos acostumamos a ela!

terça-feira, março 01, 2011

Adeus...




Lá se vão os navios pelos mares do mundo:
estão cheios de criaturas felizes
que não sei quem são...

- Boa viagem, amigos!...Este lenço que se agita
no cais
é o meu coração!

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Confissão

Se uma palavra pudesse
Encurtar o oceano
E viesse o vento
Não levando os sonhos...

Acenderia a chama
Que aquece e invade a alma...

Ouviria teus versos,
Desafiando a eternidade.

Amar-te-ia...

Com a mais pura e louca vontade
Desenhar-te-ia em traços
Suaves toques de amor e arte...

Ah! Se apenas uma palavra
Fosse suficiente
Para tê-la em minha frente
E meu amor confessar...

Confessaria...

(Rose Felliciano)

Vou indo...

Se quer mesmo saber, vou indo...
Indo assim como Deus quer e propôs...
E mesmo sem entender
Creio que tenha sido o melhor pra nós dois...

Vou indo... Indo assim como quem volta
A passos que não querem se mover...
Recolho o que o destino me devolve
Sem saber ainda o que fazer...

Vou indo... E isso é tudo!
Levo nas mãos, bem seguro
Pedaços de um coração...

É bem pouco ou quase nada
Mas é essa a minha estrada, meu caminho...
Vou seguindo... Apenas isso. Vou indo....

(Rose Felliciano)

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Distraído?



Levo sempre esse ar de quem vai conversando
com alguém...

Entretando
sigo sozinho
e não vejo ninguém...

Tão fácil o mistério:
tu me acompanhas por toda parte,
mas apenas eu sei disto...

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Cantiga do só

A gente vai subindo
passo a passo,
mais pedra, mais espaço,
menos pó...

E a gente vai aos poucos
se sentindo
mais só...

A vida está mais longe,
mais lá em baixo,
perdidas vão ficando as esperanças,
o vento mói as nuvens
faz lembranças
em sua imensa mó...

E a gente vai subindo,
vai andando,
e a gente cada vez mais
vai ficando,
mais só...

O perto é turvo; o longe é que é mais lindo.
E um ar mais frio vai nos envolvendo
e um silêncio maior
cresce ao redor.

E mais curvas, e subida, e mais caminho,
e ao se rever o que ficou de cor,
o coração sozinho
vai sentindo
que a gente continua, vai seguindo,
mas cada vez mais só...

Segue-se, em vão, a estrada do cansaço,
o coração mais lento, o olhar mais baço,
o mundo é um vago azul, não causa dó.

Nesse subir que já não vai subindo,
com os pés, as mãos, o peito, enregelados,
olha-se em torno: não há chão sem lados,
não há céu, não há sonho, não há pó...

Então, se pára...Não há mais subida,
não há volta também, não há descida,
e a gente fica só...

...completamente SÓ...

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

A gaivota


no céu
sobre o mar...
...como Deus a pos
e imaginou
a voar...

Só...
sem barcos, sem velas.
Sem sinal de terra,
sem ninguém,
com seus horizontes
céu... e mar...

Apenas
com o seu destino...

...como o poeta
a sonhar...

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Coisa estranha





Sim, quantas vezes, por íntimo pudor, por orgulho talvez, amor próprio, vaidade,
escondemos no riso a nossa dor...

Coisa estranha, a felicidade!
Estranha coisa, o amor!





   J.G. de Araujo Jorge

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Rotina



É pena que não aconteça nada em nossas vidas...

Tenho certeza de que faria
um grande poema...

domingo, fevereiro 13, 2011

A pior solidão






Ah! Quem me dera a mim teu sofrimento,
Essa dor que nem chega mesmo a dor,
Essa agonia que é tão pouco uma agonia
Que a pior solidão é caminhar no tempo
Sem que o fantasma de qualquer amor
Nos faça companhia...

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Ilha sem cantos



Que diferentes são as naturezas!
Como são desiguais nossas gargantas:
Uma em notas sombrias,
Outra num tom melódico e sonoro.

E tu, cheio de tristezas,
Cantas!
Eu, mesmo cheio de alegrias,
Choro!

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Ilha de cantos




Sei que não há solução, que pouco resta
do marinheiro que um dia se perdeu
em miragens e espantos...

As vezes já me pergunto: afinal, quem sou eu?
Só ficou a poesia, a transformar a solidão
em festa
e o coração:
ilha de cantos!

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Aqui, anos passados...

Examinando, um dia, os objetos antigos da avó. Bianca viu um enorme baú no canto do quarto.

- Vovó, o que você guarda aqui?
- A vida, menina, a vida...
- Posso ver?
- Nunca abra esse baú! Nem sempre as coisas passadas são agradáveis.

A avó de Bianca parecia saber tanto, mas falava tão pouco. Diversas foram as vezes em que a garota tentava arrancar dela informações sobre o passado, sem nenhum sucesso...mas, como curiosidade era coisa que ainda existia no ano 2000, a menina resolveu certa manhã, aproveitando um descuido da avó, abrir o baú e verificar seu conteúdo.

Vagarosamente, como num ritual, ergueu a tampa e, pouco a pouco, foi retirando os objetos.

- Meu Deus! Que coisas estranhas! De onde vêm essas bugigangas?

Nas mãos, uma caixa de madeira com cordas esticadas, de onde se desprendiam sons, a encantava. O que seria aquilo? Um pauzinho mágico que riscava, um frasco pequeno onde se lia: desodorante. O que poderia feder tanto no passado? Perguntava-se a menina, já que na sua época não existia mau cheiro.

De repente, um susto...uma touca para duas cabeças!
- Nossa! No século XX, as pessoas deviam ser monstros!

A avó subitamente entrou no quarto e viu todos os seus objetos jogados pelo chão. Surpresa com tantas coisas já esquecidas, resolveu relembrar.

As duas passaram a tarde envolvidas com lembranças da velha senhora, até que...
- Vovó, o que é isto?
- Ora, é um gravador, minha neta.

Ligaram o aparelho e a voz que se ouviu foi a de um homem a fazer uma declaração de amor: "Querida, venho trazer-te o meu adeus sincero. O último adeus, a minha despedida desses anos tão bem vividos. Para ti, que tanto amei, deixo meu violão e serenatas pelo ar. Algum dia ele será objeto estranho. A caneta com que te escrevo, no futuro será um néon ou laser. Meu pequeno frasco de colônia, que tantas vezes perfumou nosso quarto, talvez seja motivo de piada nos anos 2000. Um beijo ardente deste amor. "Rodolfo".

- Ué, vovó, no ano 2000 não existem declarações de amor!
Escolhemos nossos companheiros por computador.

- É o que vocês têm no peito em lugar de um coração. Que pena!
Você perdeu o melhor da vida.

- E o baú? Devo fechar ou você ainda vai reviver o passado?
- Feche-o. O passado está dentro de mim. O baú é apenas um símbolo. Aqui, anos passados...

domingo, fevereiro 06, 2011

Me divido em partes...

Me divido em partes...
muitas subdivido também
entre homem e poeta
e também ser humano
sou poeta sim...
homem de verdade
mas o que fala mais alto
vem do ser humano
que erra e que acerta
no caminho constante
em buscas infinitas
O poeta que acaricia
e embala seu coração
e o homem que deseja
sem esquecer do ser humano
que habita o meu ser
um beija com palavras
o outro com a boca
e finalmente com sentimentos
O poeta faz amor
transformas medos em versos
e o outro faz sexo...
aflora sentimentos
Te estende a mão,
o outro te come...
tem aquele que te consome
Um te sorri, o outro te morde
mas tem aquele que lambuza
faz de ti mero objeto
das mais belas estrofes
Carinho... tesão...
sensibilidade são essência
fazendo os mais belos poemas
os dramas mais cruéis
O prazer está em todas as partes
em todos os fragmentos
de muito prazer e paixão
Um é coração, o outro é a pele
não sei ao certo
qual é a folha de papel
onde se transforma tudo
do pecado a dor,
da ilusão ao sonho
Sentimentos profundos
em transpiração carnal...
Todos são parte de tudo
completam um ao outro
são fatias iguais!

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Ateu






Ateu do amor.
Tu me converteste.

Agora
temo te ver,
porque não creio em milagres.










J.G de Araujo Jorge

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Moral zero





Estranho, estes dias em que a vida é uma coisa inútil
e nada justifica a nossa presença
na alegria...ou na dor...

Nada...nem mesmo o amor...

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Ninguém irá parar...


Há uma fonte a cantar dentro do abismo,
tu só lhe escutas a voz
e nunca descerás onde ela passa a rolar...

Nem tentes...porque é vão...
não a podes parar...

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